quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Governo investe em pesquisa para melhorar piscicultura no Vale Juruá

Escrito por Flaviano Schneider

Pesquisa identifica seis novas espécies nos lagos de Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves

Seminário apontou estudos da atividade pesqueira na região do Juruá.


O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e o Governo do Acre realizaram em Rodrigues Alves um seminário para apresentação dos resultados do projeto "Análise da Diversidade de Peixes como Subsídio à Gestão dos Recursos Pesqueiros da Região do Juruá". A pesquisa, coordenada pelo professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) Lisandro Juno, doutor em ecologia, foi realizada no período de maio de 2009 a junho de 2010, envolvendo técnicos da Secretaria de Aquicultura e Pesca (SEAP), comunitários e pescadores da região de Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves.

Por um lado, uma decepção: os cinco lagos pesquisados não apresentaram a diversidade de peixes que era de se esperar, em razão da prodigiosa biodiversidade do Vale do Juruá, e, por outro lado, a surpresa: seis novas espécies de peixes ainda não catalogados foram identificadas.

Participaram do seminário o professor Lisandro, o gerente de Regionais da SEAP, Mamede Dankar, o superintendente de Pesca no Acre, Samir Pinheiro, prefeito Ernilson Alves de Freitas (Burica) e técnicos da prefeitura, além de pescadores e comunitários da região dos lagos.

Lisandro conta que o projeto surgiu a partir de demanda das comunidades de pescadores em função da redução dos estoques de pescado, tendo em vista estudar a diversidade de peixes e algumas características ecológicas com finalidade de auxiliar no manejo da pesca. Inclusive, os cinco lagos pesquisados foram escolhidos em negociação com as comunidades.

"Nos lagos a gente detectou que a riqueza é baixa em relação ao que se esperava para esta região, porque a região de Cruzeiro do Sul é muito rica em biodiversidade, temos o Parque Nacional da Serra do Divisor que é a Meca da biodiversidade no mundo. E então foi considerada baixa comparando inclusive com lagos que ficam dentro de áreas urbanas como é o Lago do Amapá em Rio Branco, que tem uma riqueza maior", explicou Lisandro.
Baixa diversidade

Pesquisa identificou espécies mais indicadas para fazer manejo, para repovoamento ou mesmo para criar em cativeiro para produção comercial (Foto: Onofre Brito/Secom)
Vários fatores podem explicar a baixa diversidade, segundo Lisandro. Entre eles as mudanças que vêm sendo causadas no ambiente, por questões globais; a sobrepesca, além dos limites naturais dos rios e lagos da região; a interferência de desmatamentos e outras ações do homem na área de entorno. Em muitos lugares a vegetação ciliar está sendo suprimida. Isto interfere no ambiente aquático, na qualidade da água, na oferta de alimentos, pois vários peixes se alimentam de insetos ou outros organismos que caem da floresta e quando se retira a floresta eles deixam de ter alimentos, o que compromete a reprodução e o crescimento, enfim, a renovação dos estoques.

O objetivo da pesquisa é ver que espécies são mais indicadas para fazer manejo, para repovoamento ou mesmo para criar em cativeiro para produção comercial. Segundo Lisandro, peixes como a branquinha (conhecidos na região como mocinha), bagres e mandis são espécies com potencial para serem cultivadas e, para algumas delas, inclusive já existe a tecnologia, é só adaptar para a região. Durante um ano foram feitas quatro coletas em cada um dos lagos pesquisados.

Mamede Dankar considerou positivos os resultados da pesquisas. Ele conta que o Governo Federal tem interesse em introduzir o pescado na merenda escolar pelo menos duas vezes por semana, o que vai ser mais um incentivo para os piscicultores da região. "Nós da SEAP e todos os organismos que trabalham com este tipo de atividades, precisamos ter uma atenção especial para o que foi estudado. A secretaria já tem alguns projetos para trabalhar com isto, envolvendo limpeza de rios e lagos, implantação de um laboratório de produção de alevinos. Queremos produzir não apenas aqueles mais conhecidos como o piau e o tambaqui, mas outras espécies identificadas pelo trabalho de pesquisa. O pensamento é repovoar os lagos, formalizar um acordo de pesca, incentivar o manejo comunitário", explicou.

Leíde Ramos é a presidente da Associação de Mulheres de Nova Cintra. Desde criança ela mora na região dos lagos e pôde presenciar a evolução dos acontecimentos ao longo dos anos. Leíde explica que na região existem quatro lagos principais, mas dois já estavam interditados,com muita ‘pasta', nome que os pescadores da região dão à vegetação aquática que cresce nos lagos. Até mesmo o lago Verde, considerado por ela o ‘pai das comunidades' estava ficando sem peixes, mas a SEAP reabriu o sangradouro normalizando a situação.

Ela informa ainda que o Lago Nova Cintra tem novamente muito peixe, embora a limpeza tenha sido parcial, pois devido ao inverno com pouca chuva não foi possível retirar toda a vegetação cortada, o que agora só pode acontecer no próximo ano.

Agência de Notícias

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